quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Supressão da semivogal em palavras como "beijo" e "queijo"

Doutora Norma, acho que tenho uma patologia! Mas acredito que a senhora está acostumada com isso. 
Tenho percebido muito na fala das pessoas que convivem comigo e vi um aspecto curioso, mas que não conheço. Algumas destas pessoas têm o costume de não falar o "i" em algumas palavras como em "beijo" e "queijo", tenho certeza de que não sou a primeira a perceber isso. A senhora poderia me explicar por quê isso ocorre?

uerjianos

Um comentário:

  1. Prezados consulentes,

    Já que o grupo recorre a mim como forma de aumentar a proficiência no seu uso da língua portuguesa, antes de examinar o quadro sintomático, constato três problemas assintomáticos no discurso de vocês. Primeiramente, há um equívoco de conjugação verbal logo no primeiro período, em que vocês empregam o modo indicativo no lugar do subjuntivo, exigido pela conjunção “que”.

    Mais adiante, há um problema de coesão, e consequentemente de coerência, na construção do primeiro período do segundo parágrafo da pergunta; releiam sempre tudo o que vocês escrevem! O mais adequado seria que vocês tivessem formulado o seguinte período: “Tenho percebido muito, na fala das pessoas que convivem comigo, um aspecto curioso, mas que não conheço”.

    Outra patologia assintomática diz respeito ao uso do “por quê”. Já respondi aqui no Blog uma pergunta sobre em quais circunstâncias se utiliza cada uma das formas “porque”, “por que”, “por quê” e “porquê”, vale a pena a consulta! De qualquer modo, vocês deveriam ter empregado a forma separada e sem acento (por que).

    Examinando seu caso sintomático propriamente, apresento-lhes o seguinte esclarecimento:

    O fenômeno linguístico sobre o qual vocês perguntaram e para o qual apresentaram os exemplos “beijo” (“bêjo”) e “queijo” (“quêjo”) chamar-se-ia, segundo a Linguística Histórica, monotongação. Conforme o tempo e o uso da língua, os vocábulos passam por transformações fonéticas, às quais damos o nome de metaplasmos (que, etimologicamente, significa ‘mudança de forma’). A monotongação é um tipo de metaplasmo que consiste no apagamento da semivogal nos ditongos crescentes ou decrescentes. Nesse caso, como a semivogal (“i”) aparece depois da vogal (“e”), teríamos um ditongo decrescente, que é transformado para atender à primeira lei fonética, a do menor esforço, que atesta a tendência universal de o falante simplificar a emissão dos sons. A facilitação dos órgãos do aparelho fonador acontece e, no caso da monotongação, dá-se pela pronúncia de um só som vocálico no lugar de dois.

    Cabe ainda uma observação conceitual: O estudo dos metaplasmos é diacrônico, pois se volta à análise das transformações fonéticas do latim para o português. Contudo, as variações na forma de falar continuam a ocorrer até hoje, e, graças à globalização, esse processo acontece cada vez mais rápido. Os metaplasmos são usados somente como teoria para explicar as modificações mais recentes e não devem ser tratados, então, como parte integrante de estudos sincrônicos da língua.

    Agradeço a confiança e espero ter curado sua dúvida,

    Dra. Norma.

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